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quinta-feira, agosto 26, 2010

Ostra feliz não faz pérola - Por Rubem Alves


Ostras são moluscos, animais sem esqueleto, macias, que são as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, com pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas – são animais mansos – seriam uma presa fácil dos predadores.


Para que isso não acontecesse a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem. Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostra felizes porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário. Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. As ostra felizes se riam dela e diziam: “Ela não sai da sua depressão...” Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor. O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de suas aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava seu canto triste, o seu corpo fazia o seu trabalho – por causa da dor que o grão de areia lhe causava.



Um dia passou por ali um pescador com o seu barco. Lançou a sua rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-as para a sua casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras de repente seus dentes bateram numa objeto duro que estava dentro da ostra. Ele tomou-o em suas mãos e deu uma gargalhada de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele tomou a pérola e deu-a de presente para a sua esposa. Ela ficou muito feliz...”



Ostra feliz não faz pérolas. Isso vale para as ostras e vale para nós, seres humanos. As pessoas que se imaginam felizes simplesmente se dedicam a gozar a vida. E fazem bem. Mas as pessoas que sofrem, elas têm de produzir pérolas para poder viver. Assim é a vida dos artistas, dos educadores, dos profetas. Sofrimento que faz pérola não precisa ser sofrimento físico. Raramente é sofrimento físico. Na maioria das vezes são dores na alma.




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sábado, agosto 14, 2010

As entrelinhas

De vez em quando me sinto como quem toca harpa enquanto a cidade está em chamas. Com a atenção voltada quase exclusivamente para os temas próprios da experiência espiritual e religiosa é fácil perder de vista as intrincadas dimensões do cotidiano: o discurso religioso pode tender perigosamente à abstração, tornando-se atemporal e etéreo, como se já vivêssemos em outro mundo, o céu, tendo deixado a terra entregue à sua própria sorte ou aos urubus.

É verdade que a maldade humana e a bondade divina; a mortalidade e finitude da criatura diante da eternidade do Criador; pecado, culpa, condenação e danação face às possibilidades do perdão, da redenção e da salvação plena; arrependimento, fé, esperança e amor; são mesmo temas que não sofrem o desgaste do tempo e atingem consciências em abrangência universal. Mas não é menos verdadeiro que os fatos do cotidiano estão implicados no que chamamos vida: caso a espiritualidade não afetasse a trama diária, a experiência religiosa seria coisa de anjos e defuntos.

Por esta razão, o exercício constante de quem busca a vida de piedade e devoção religiosa deve, como sugere Henri Nouwen, "ler jornais de forma espiritual", pois "os jornais servem para nos ajudar a ler os sinais dos tempos e a dar sentido à vida". Nouwen ensinou que "Jesus não olha para os acontecimentos dos nossos dias apenas como uma série de incidentes e acidentes que pouco têm a ver conosco. Jesus olha para os eventos políticos, econômicos e sociais da nossa vida como sinais que apelam para uma interpretação espiritual".

Por trás do extraordinário jamaicano Usain Bolt, o homem mais rápido do mundo, se esconde a busca humana de identificação e superação dos limites; na face de Marina Silva se revela a insistência humana em crer na utopia; por entre os corredores do Senado Federal rastejam cobras peçonhantas que se valem da posição de poder para matar, roubar e destruir; o emaranhado de empresas fantasmas ligadas à Igreja Universal do Reino de Deus sugere a inescrupulosidade dos que fazem do sofrimento humano uma fonte de lucro e transformam a esperança em mercadoria, tudo em nome de Deus - não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão.

Não foi sem razão que Karl Barth, teólogo protestante, disse que o cristão deve carregar em uma das mãos a Bíblia e na outra o jornal. Foi assim que, em meio à barbárie do nazismo, conseguiu "discernir os tempos" e atuar como principal redator da Declaração Teológica de Barmen, que estabeleceu critérios para as relações dos cristãos ameaçados por um Estado totalitário e da ideologia do nacional-socialismo. A Bíblia aponta o norte, o jornal aponta o chão. A Bíblia nos ajuda a enxergar o céu, o jornal nos livra de andarmos com a cabeça nas nuvens. A Bíblia é a resposta de Deus, o jornal, a pergunta dos homens.

Lendo o jornal com a Bíblia nas mãos conseguimos interpretar de modo espiritual o que está por trás da teia da vida e discernir o sentido mais profundo da história, que Nouwen compreende ser "um convite constante a voltarmos o coração para Deus".

quinta-feira, agosto 05, 2010

Em Busca de Tesouros – Mateus 6:19

Todos nós sonhamos com uma vida melhor. Isso não é pecado. Pelo contrário, querer progredir, crescer, prosperar financeira... De fato, a Bíblia nos ensina a buscar nosso crescimento pessoal e profissional através do trabalho. (Ver Provérbios 6:6)



No texto que acabamos de ler, Jesus em um momento anterior havia ensinado os seus discípulos a orar, dando o exemplo da oração do Pai Nosso... E uma das coisas que fica clara nesse modelo, são o reconhecimento da soberania de Deus e nossa total dependência Dele. (... seja feita Sua Vontade assim na terra como nos céus, o pão nosso de cada dia nos dá hoje...)

Assim fica mais fácil entender o texto que lemos. Jesus não está pregando contra aqueles que têm mais posses financeiras, ou mesmo contra aqueles que a buscam. Ele está alertando exatamente para as nossas prioridades. E o que é mais importante pra você? O que tem pra você valor de tesouro? O que você busca mais? O que você mais almeja na sua vida?

O verso 10 curiosamente, em várias versões, traz o pronome pessoal na 3ª pessoa “para vocês” ou “para vós”... Fiquei me indagando o porquê disso, por que o verso pode existir sem essa citação. A questão é, que, onde há ganância, geralmente há egoísmo. Jesus estava falando exatamente a essas pessoas que se preocupavam em acumular bens na Terra e se esqueciam de sua vida espiritual.

Outra linha de pensamento para essa citação, digamos, redundante é sobre a questão da posteridade. Até mesmo aquilo que deixamos para nossos descendentes não deve se resumir apenas ao material, efêmero. Mas acima de tudo, nosso legado tem que ser moral, eterno.

Jesus então nos conclama a cuidar daquilo que está além do físico, tangível. A proposta de Jesus é: “Ajuntem para vocês tesouros nos céus”. Preocupamos-nos tanto com determinadas coisas e subvalorizamos outras. Damos importância demasiada ao que é fútil e menosprezamos aquilo que é realmente significativo, importante.

Segundo Jesus, devemos buscar tesouros:


Celestiais: Tudo aquilo que construímos tem importância, mas não vai conosco após nossa morte. Devemos entender que tesouros celestiais devem ser buscados ao longo da nossa vida. Investimos tanto na nossa vida terrena e esquecemos-nos de investir na nossa vida eterna. Vivemos como se tudo terminasse no momento de nossa morte física, mas é engano. Podemos dizer que a vida sem Cristo é um sinal de falta total de investimento espiritual.



Eternos: Jesus disse que: “Nem a traça e a ferrugem corroem”. Devemos buscar tesouros que não se perdem com o tempo. Lembro do meu avô, que, depois de falecido, descobriram-se em uma mala suas inúmeras quantias em dinheiro, só que já havia perdido seu valor devido ao tempo... Fiquei imaginando o quanto ele se esforçou pra guardar todos aqueles valores. Ajuntemos então tesouros eternos, que não podem ser perdidos e roubados.


Inestimáveis: Existem tesouros verdadeiramente inestimáveis. Família, Filhos, esposa (o)... Existem tesouros que devem ser valorizados, pois são inestimáveis. O grande problema; repito, é que valorizamos coisas fúteis e subvalorizamos o importante. Fico imaginando o quanto Deus teve de abrir mão daquilo que era tão importante pra ele: Seu Filho Jesus. Tudo isso porque pra Deus, somos tesouros inestimáveis. Precisamos valorizar aquilo que é importante, que realmente tem valor.

Jesus disse que, onde estiver o seu tesouro, ali estará também o seu coração. Cuide do seu tesouro. Mas cuide daquilo que realmente é tesouro. Valorize os tesouros que Deus tem te dado.


Pr. Marcello Matias.




terça-feira, agosto 03, 2010

Louvado seja eu!

Faz muito tempo que Deus não é louvado na igreja brasileira. A esmagadora maioria dos "hinos" cantados são focados única e exclusivamente no homem, em seus anseios mais infantis, em seus delírios consumistas. No reinado da mesmice musical, as frases, os determinismos, sempre giram em torno dessa autoajuda empobrecida que se alastrou pelas igrejas. Os novos mantras da musicalidade e(vã)gélica invasiva dos cultos, não tratam Deus como Deus, mas como um serviçal sagrado, cada vez mais vítima dos desmandos de uma gente mandona!

Não suporto mais a coreografia gospel do: "vire para o seu irmão e profetize!"; "dá glória!"; "determine!" Estive observando a repetitividade das frases de efeito: "Você é um campeão" (campeã das frases). "Você nasceu pra vencer" (agora, se dez pessoas estiverem orando por uma vaga de emprego, nove serão perdedores, né?). "Você nasceu pra brilhar"; "Você é uma estrela"; "Seus inimigos não vão morrer enquanto você não for exaltado na terra!" (essa é a teologia Bin Ladeniana, onde o que importa não é vencer, mas sim humilhar os que perderam).

Não suporto mais o culto invasivo. Quero ter o direito de ficar sentado. Quero poder estar triste no culto! Quero ter o direito de não cantar. Não preciso ficar em pé, abraçar o indivíduo ao meu lado ou levantar a mão para que todos saibam que estou cultuando, ou que sou vitorioso. Não preciso provar nada pra ninguém! E tem mais: se o culto é pra Deus, somente Ele pode julgá-lo bom ou ruim, e não os tais "ministros de louvor".

Isso sem falar no choro sem lágrima, a nova modalidade de "quebrantamento" utilizada pelos gurus musicais das igrejas. Aquela ladainha melosa, misturada a uma fungadinha aqui outra lá. Gente passando o lenço no rosto pra enxugar lágrimas tão falsas quanto seu ministério. Enquanto isso Deus chora - e com muitas lágrimas - por ver ao que reduzimos o louvor ao seu nome. Ele sofre pela tragédia musical da atualidade.

O homem contemporâneo tornou-se o deus de seu próprio louvor. Quando isso acontece, biblicamente só há um nome: idolatria!

Por essas e outras é que ainda amo o louvor do silêncio...

Alan Brizotti


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